Quatro projetos de incentivo à leitura venceram o 8º Prêmio Viva Leitura, que nesta edição recebeu 1.467 inscrições. Voltados a pessoas em situação de rua, pais de alunos, detentas, além de crianças e adolescentes vítimas de abuso e violência sexual, as iniciativas têm em comum o objetivo de estímulo ao ato de ler. Promovido pelos ministérios da Educação e da Cultura, o Viva Leitura busca reconhecer o trabalho de entidades, escolas, cidadãos e bibliotecas. Na cerimônia de premiação, que acontece em Brasília neste mês de abril, cada projeto vencedor receberá R$ 25 mil em incentivo.
Na categoria Biblioteca Viva, venceu a disputa o projeto Tornar visíveis os invisíveis, um desafio instigante: experiência da Biblioteca Pública Municipal Avertano Rocha e do Centro Pop, da Biblioteca Pública Municipal Avertano Rocha, no distrito de Icoaraci, em Belém, no estado do Pará. Por meio de oficinas, exibição de filmes, saraus literários e empréstimo de livros e CDs, a população em situação de rua passou a frequentar o espaço de leitura.
“Nós temos critérios para empréstimo, as pessoas têm de apresentar comprovante de residência, documento, um contato de telefone, e nada disso eles têm. Então a gente usou o endereço do Centro Pop e foi uma grata surpresa”, explica a bibliotecária Terezinha Lima, responsável pelo projeto. “Eles pegam o livro e têm o maior cuidado, pedem pra assistente social guardar no armário deles. Um dos livros foi extraviado e a pessoa procurou pagar com outro exemplar”, conta ela, orgulhosa dos novos leitores, que têm entre 20 e 60 anos e é de maioria masculina.
A Escola Municipal de Ensino Fundamental Leocádia Felizardo Prestes, de Porto Alegre, no Rio Grande do Sul, foi a escolhida da categoria Escola Promotora de Leitura. A instituição de ensino, que compõe a rede pública municipal, desenvolve desde agosto de 2014 o projeto Pacto pela Leitura – Formação de Pais Leitores, que envolveu pais de alunos moradores de uma área de grande vulnerabilidade social da capital gaúcha.
Percebendo que os alunos da educação infantil chegavam à fase da alfabetização sem qualquer intimidade com a leitura – muitas vezes sem saber abrir um livro –, as professoras Cláudia Sepé e Sandra Holleben chamaram os pais para a sala de aula e propuseram o desafio: criar o hábito da leitura com os filhos, em casa. Para isso, as docentes passaram a se reunir com os responsáveis.
“O objetivo desses encontros era justamente dar uma orientação para os pais acerca de como usar os livros com os filhos. Como preparar uma leitura para ser feita em casa, que demanda uma série de coisas como, por exemplo, ler antes o livro, apresentar a capa para a criança se interessar”, diz Cláudia Sepé. Muitos desses pais, relata a professora, já não costumavam ler, tanto pela falta de costume quanto pela dificuldade de adquirir os livros.
O projeto acabou criando nos responsáveis pelas crianças o desejo individual pela leitura, além de envolvê-los muito mais no ambiente escolar. “Os pais do projeto já fizeram leituras de histórias nas salas de aula da escola. O projeto se expande. O objetivo é que se trabalhe em casa, com as famílias, mas esses pais entraram de uma forma tão intensa na rotina da escola que eles começaram a ler para outras crianças dentro do espaço escolar”, conta Cláudia. “É uma rede que se retroalimenta, sai da escola, mas volta para a escola.”
A categoria Territórios da Leitura premiou o projeto Literatura Cura, desenvolvido pelo Instituto Chamaeleon, Organização da Sociedade Civil de Interesse Público (Oscip) de Brasília. A instituição recorre à leitura para trabalhar a cura de traumas de crianças e adolescentes vítimas de abuso e violência sexual, bem como em mulheres vítimas de agressão moral e psicológica. Oficinas de contação de histórias, produção de textos, criação de poesia e leitura dramática são algumas das atividades realizadas com o acompanhamento de psicólogos e pedagogos.
O projeto À flor da pele foi o escolhido na categoria Cidadão Promotor de Leitura. Coordenado por Marli Silveira, a intenção da iniciativa é resgatar a criatividade e promover humanização e desenvolvimento intelectual de detentas do Presídio Regional de Santa Cruz do Sul, no Rio Grande do Sul. Por meio de oficinas de textos, poesias, rodas cantadas, saraus poéticos e tardes de leitura com as mulheres em privação de liberdade, resultam revistas e filmes.
Menção – Além dos quatro projetos premiados, outros cinco tiveram o trabalho reconhecido. “Exposições Literárias Itinerantes” de Minas Gerais; Brinquedoteca Pública Municipal, do Ceará; Verdade Aberta, de São Paulo; Tear de Histórias, do Rio de Janeiro, e Kombina, do Rio Grande do Sul, ganharam a menção honrosa José Mindlin.
Outras 16 iniciativas finalistas das quatro categorias serão apresentadas no catálogo do prêmio, criado em 2006 como desdobramento do Ano Ibero-Americano da Leitura. Desde então, o Prêmio Viva Leitura integra o Plano Nacional de Livro e Leitura (PNLL).
(Fonte: Ministério da Educação)